Hoje é o 100º aniversário de Luiz Gonzaga, e para homenagealo o portal Tanque News relembra sua história de sucesso
Gonzagão, 22 anos de Saudade
"Meu nome é Luiz Gonzaga, não sei se sou fraco ou forte, só sei que,
graças a Deus, té pra nascer tive sorte, apois nasci em Pernambuco, o
famoso Leão do Norte. Nas terras do novo Exu, da fazenda Caiçara, em novecentos e doze, viu o mundo a minha cara.
No dia de Santa Luzia, por isso é que sou Luiz, no mês que Cristo nasceu, por isso é que sou feliz."
O INÍCIO
Gonzaga nasceu em 13 de Dezembro de 1912, na Fazenda Caiçara, em Exu,
distante 603 Km da Capital Pernambucana. Segundo dos nove filhos da
união do casal Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus(Santana),
veio ao mundo dividido entre a enxada e a sanfona. Foi observando seu
pai animando bailes e consertando velhas sanfonas, que lhe desperta a
curiosidade por tal instrumento. Certa vez seu pai encontrava-se na roça
e sua mãe na beira do rio, o mesmo pegou uma velha sanfona e começou a
tocar. Santana, que não queria que o
filho
trilhasse o mesmo caminho do pai, dava-lhe puxões de orelha que nada
adiantavam. Luiz seguia em frente, acompanhando seu pai em diversos
forrós, revezando-se com ele na sanfona e ganhando seus primeiros
trocados. Um belo dia Januário foi pego de surpresa quando o Srº
Miguelzinho, dono de um forró, pediu para que Gonzaga tocasse, este
havia acordado com um outro tocador que não apareceu. A salvação foi
convidar o então menino Gonzaga que já mostrara suas habilidades no
mesmo terreiro, sem a anuência de seus pais. Fez muito sucesso. E
por
aquelas "bandas" era conhecido por Luiz de Januário. Assim o Forró
rolou solto ao longo da noite, Gonzaga sentia-se feliz, empolgado, era a
primeira vez que tocava com o consentimento da
mãe.
Com o passar da noite, começou a sentir seus olhos arderem, a cabeça
pesar, foi então que pediu para deitar na rede e de tão menino que era,
ainda fez xixi enquanto dormia. Daí então passou a acompanhar Januário
em festas de mais responsabilidades, revezavam-se entre toques e
cochilos. Santana a princípio relutava, mas deixou-se levar pelos dois
mil réis que o principiante tocador ganhava em suas "empreitadas". Assim
cresceu Gonzaga: ajudando o pai na roça e na sanfona, acompanhando
Santana às feiras do Exu, fazendo pequenos serviços para os fazendeiros
da região, sendo protegido pelo Cel. Manuel Aires de Alencar, homem
bondoso e respeitado até por seus inimigos. Gonzaga era bem tratado
pelos Aires de Alencar, tanto que suas primeiras escritas e leituras
foram ensinamentos das filhas do Coronel
.
A PRIMEIRA SANFONA
Foi
o próprio Coronel Aires quem realizou o grande sonho de Gonzaga:
possuir sua primeira sanfona. Tal instrumento custava a importância de
cento e vinte mil réis, Gonzaga tinha só a metade, a outra o próprio
Coronel adiantou, quantia esta paga mais tarde com o fruto do seu
trabalho de sanfoneiro. O primeiro dinheiro ganho com a nova sanfona foi
no casamento de Seu Dezinho, na Ipueira, onde ganhou vinte mil réis.
Tal convite viera aumentar sua fama, começa ali a ser um respeitado
sanfoneiro na região.
O PRIMEIRO AMOR
Casamento? Gonzaga só pensava nisso. Comprou até aliança. Queria casar
com Nazinha, filha do Seu Raimundo Milfont, um importante da cidade. O
pai
da moça ao tomar conhecimento das intenções do aprendiz de sanfoneiro,
não permitiu o namoro. "Um diabo que não trabalha, não tem roça, não tem
nada, só vive puxando fole". Gonzaga não hesitou, indignado, comprou
uma peixeira, tomou umas truacas (cachaça), quis brigar, quis matar, mas
acabou levando outra surra de Santana. Dessa vez fugiu triste para o
mato, mas com uma idéia fixa na cabeça: entrar para o Exército.
GONZAGÃO GANHA O MUNDO
Dizendo
que ia a uma festa deixou a terra natal rumo ao Crato, no Ceará, cidade
maior e mais próspera, onde vendeu a sanfona e pegou o trem para
Fortaleza, alistando-se em seguida. Com a Revolução de 1930, o batalhão
de Gonzaga percorreu muitos Estados até chegar à cidade de Juiz de Fora,
em Minas Gerais. Ali, conheceu outro sanfoneiro, Domingos Ambrósio, o
grande amigo que lhe ensinara os ritmos mais populares do Sul: valsas,
fados, tangos, sambas. Gonzaga tirou de letra. Em 1939 deu baixa no
Exército e seguiu para São Paulo e em seguida para o Rio de Janeiro.
Passou então, a apresentar-se em bares da zona do meretrício carioca,
nos cabarés da Lapa e em programas de calouros, sempre tocando músicas
estrangeiras. Em uma dessas apresentações, um grupo de estudantes
cearenses chamou-lhe a atenção para o erro que estava cometendo: por que
não tocava músicas de sua terra, as que Januário lhe ensinara? Luiz
seguiu o conselho e passou a tocar e compor músicas do Sertão
Nordestino. Foi no programa do Ary Barroso que Gonzaga recebera
calorosos aplausos pela execução do Vira e Mexe, música de sua autoria,
proporcionando ao até então desconhecido Gonzaga o seu primeiro contrato
pela Rádio Nacional, no Rio de Janeiro.
SEUS AMORES
Na
solidão da cidade grande, distante de sua família e do seu pé-de-serra,
Gonzaga não dispunha de ninguém que dele cuidasse. Apesar de estar
morando com seu irmão Zé, demonstrava vontade em construir seu próprio
lugar, sua própria família. Teve diversos amores o mais conhecido foi
com a corista carioca Odaléia Guedes, em meados do ano de 1945, tendo-a
conhecida já grávida, assumindo e registrando como seu filho Luiz
Gonzaga do Nascimento Júnior - Gonzaguinha. Apesar de ser bastante
exigente Gonzaga finalmente encontra o que procurava, Em 1948 conhece a
pernambucana Helena Cavalcanti, tornando-a sua secretária particular e
mais tarde sua companheira. Tal união estendeu-se até perto de sua
morte. Não tiveram
filhos, pois era estéril.
O SUCESSO
O apogeu do Baião perpassou a segunda metade da década de 40 até a
primeira metade da década de 50, época na qual Gonzaga consolida-se como
um dos artistas mais populares em todo território nacional. Tal sucesso
é devido principalmente à genialidade musical da "Asa Branca"
(composição dele com Humberto Teixeira), um hino que narra toda
trajetória do sofrido imigrante nordestino.
Quando olhei a terra ardendo
Qual fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação.
Luiz Gonzaga - Humberto Teixeira
A partir de 1953 Gonzaga passou a apresentar-se trajado com roupas
típicas do Sertão Nordestino: chapéu (inspirado no famoso cangaceiro
Virgulino Ferreira, O Lampião, de quem era admirador), gibão e outras
peças características da indumentária do vaqueiro nordestino. Alia-se a
esta imagem a presença de sua inconfundível Sanfona Branca - A Sanfona
do Povo. Com o surgimento de novos padrões na música popular brasileira,
o apogeu do Baião começa a apresentar sinais de declínio, apesar disso,
Gonzaga não cai no esquecimento, pelo menos para o público do interior,
principalmente no Nordeste. Todavia, foi o próprio movimento musical
juvenil da Década de 60 - notadamente Gilberto Gil e Caetano Veloso,
este último e depois Gonzaguinha regravando ambos o sucesso Asa Branca,
responsáveis pelo ressurgimento do nome Gonzaga no cenário musical do
país. Em março de 1972 em show realizado no Teatro Tereza Rachel, no Rio
de Janeiro, marca o reaparecimento de Gonzaga para as platéias urbanas.
Nessa época retorna às paradas de sucesso como "Ovo de Codorna" cuja
autoria é do nordestino Severino Ramos.
A VOLTA PRA CASA
Após
longo período de atividade profissional, cerca de 35 anos, é chegada a
hora de retornar a sua terra natal. Em Exu dá início à construção do tão
sonhado Museu do Gonzagão, localizado às margens da BR-122, dentro do
Parque Aza Branca (escrevia desta forma por pura superstição, embora
soubesse do erro ortográfico). Lá se encontra o maior acervo de
peças
pertencentes ao Rei do Baião: suas principais sanfonas, inclusive a que
tocou para o Papa em Fortaleza; suas vestimentas; seus discos de ouro;
troféus; diplomas; títulos; fotos e presentes a ele ofertados ao longo
de sua brilhante carreira. Além do Museu, o Parque abriga também o
Mausoléu da família, lanchonete, grande palco de shows, várias suítes
para acolhimento de visitantes, a casa de Vovô Januário, lojinha de
souvenir e a casa grande de onde Gonzaga observava a sua pequena Exu.
Últimos anos, morte e legado
Luiz Gonzaga sofria de
osteoporose havia alguns anos. Morreu vítima de parada cardiorrespiratória no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana Seu corpo foi velado em Juazeiro do Norte
(a contragosto de Gonzaguinha, que pediu que o corpo fosse levado o
mais rápido possível para Exu, irritando várias pessoas que iriam ao
velório e tornando Gonzaguinha "persona non grata" em Juazeiro do Norte)
e posteriormente sepultado em seu município natal.
[7]
Luiz Gonzaga era
Maçon e é o compositor, juntamente com Orlando Silveira, da música "Acácia Amarela". Luiz Gonzaga foi iniciado na
Loja Paranapuan,
Ilha do Governador, em
03 de abril de
1971.
[8]
Em 2012, Luiz Gonzaga foi tema do carnaval da GRES
Unidos da Tijuca,
com o enredo "O dia em que toda a realeza desembarcou na avenida para
coroar o Rei Luiz do Sertão", fazendo com que a escola ganhasse o
carnaval deste respectivo ano.
Escreve Ana Krepp em matéria para a
Revista da Cultura: "O rei
do baião pode ser também considerado o primeiro rei do pop no Brasil.
Pop, aqui, empregado em seu sentido original: o de popular. De 1946 a
1955, foi o artista que mais vendeu discos no Brasil, somando quase 200
gravados. 'Comparo Gonzagão a Michael Jackson. Ele desenhava as próprias
roupas e inventava os passos que fazia no palco com os músicos',
ilustra [o cineasta] Breno [Silveira, diretor de
Gonzaga - De pai para filho].
Foi o cantor e músico também o primeiro a fazer uma turnê pelo Brasil.
Antes dele, os artistas não saíam do eixo Rio-SP. Gonzagão gostava mesmo
era do showbizz: viajar, fazer shows e tocar para plateias do
interior."
[9]
Em 2012,o filme de
Breno Silveira Gonzaga, De Pai Pra Filho,
narrando a relação conturbada de Luiz Gonzaga com o filho Gonzaguinha,
em três semanas de exibição já alcançara a marca de 1 milhão de
espectadores.
[10]
Tanque News em 2013 junto com você